A
modelo Gisele Bündchen anunciou nesta quarta-feira (26) que irá lançar uma
biografia, “Lessons — my path to a meaningful life”, na qual conta a sua luta com o
transtorno do pânico, distúrbio agudo de ansiedade que atinge
cerca de 2% da população mundial.
Quem
sofre do problema vivencia ataques súbitos e recorrentes de pânico. Os
sintomas, decorrentes de um aumento rápido no nível de ansiedade, incluem
coração acelerado, tremores, tontura, falta de ar, pressão no peito, ondas de
frio ou calor, e náusea.
Para
o professor e psiquiatra Antonio Nardi, fundador do Laboratório de Pânico e
Respiração do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), no entanto, o sintoma mais dramático é que “a pessoa tem a sensação
de que vai morrer”.
“No
geral, o ataque dura de cinco a vinte minutos, mas o medo de ter outro pode
durar uma vida inteira”, explica. “A pessoa começa a desenvolver um grau de
hipocondria, a ficar observando muito todos os seus sintomas achando que tudo
pode ser um sinal de doença”, completa.
O
temor de que o ataque se repita pode, inclusive, levar a mudanças de
comportamento, como evitar certos espaços onde pode não receber socorro
imediato. É a chamada a agorafobia.
“Lugares
como trânsito, pontes, túneis, lugares fechados, ermos, altos, dos quais não
consiga sair imediatamente. A pessoa começa a ter várias fobias não dessas
situações em si, mas de passar mal nessas situações e não ter um socorro
imediato”, explica Antonio Nardi.
A
mudança de comportamento é, inclusive, um dos mecanismos usados para o
diagnóstico, como explica o psiquiatra Lucas Gandarela, do Ambulatório de
Ansiedade (Amban) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Já
o psiquiatra Guilherme Spadini, também do Amban, lembra que é preciso
diferenciar um ataque de pânico do transtorno em si.
“O
ataque é uma coisa comum. Vai acontecer pelo menos uma vez na vida de 90% das
pessoas. O que caracteriza o transtorno é que algumas pessoas continuam tendo
de maneira recorrente”, diz. Ele destaca que o número de ataques, em si, não é
importante, mas sim que a pessoa tenha medo de tê-los novamente.
Os
três especialistas destacam que o diagnóstico pode demorar a vir, porque o
paciente tende a achar que o problema é físico e levar tempo em procurar ajuda.
“É uma sensação física muito forte, então ela vai buscar o pronto-socorro. Não
tem sinal de que é algo mental”, explica Gandarela. Normalmente, os pacientes
são encaminhados à saúde mental pelo pronto-socorro.
Causas
Antonio
Nardi explica que o transtorno do pânico tem origens hereditárias. De acordo
com ele, a prevalência na população geral fica em torno de 2%. Para pessoas que
têm um parente de primeiro grau com o distúrbio, a probabilidade de desenvolvê-lo
sobe para 18%.
Mesmo
assim, só a genética não explica tudo. Fatores ambientais, como o estresse,
aumentam as chances de desenvolver o transtorno. “Oito em cada dez pessoas
diagnosticadas passaram por algum estressor ambiental importante no ano anterior.
Não precisa nem ser uma coisa ruim. Pode ser uma promoção no trabalho, que traz
mais expectativa e funciona como um gatilho”, explica Gandarela.
O
distúrbio costuma se desenvolver entre os 15 e 25 anos de idade, segundo Nardi,
mas também pode atingir crianças. As mulheres também são afetadas, em média,
duas vezes mais do que os homens, mas a causa para isso ainda é desconhecida.
Existe a hipótese de que a proporção se deva a características hormonais.
Tratamento
Os
psiquiatras explicam que o transtorno pode ser tratado com medicamentos, que
bloqueiam os ataques de pânico, e terapia, principalmente a modalidade
cognitiva-comportamental. “O tratamento é uma exposição sistemática a situações
de pânico, porque o ciclo de evitar o ataque aumenta os sintomas”, lembra
Spadini.
Nardi
destaca, ainda, o papel da atividade física no tratamento. “É tão importante
quanto os outros dois. Melhora a ansiedade e funciona como reforço contrário às
ideias hipocondríacas, porque a pessoa acaba reconhecendo a sua saúde”, pontua.
Estigma
Gandarela
conta que vê pacientes terem o transtorno tratado como frescura. “ As pessoas
não conseguem compreender por que alguém que estava ali, fazendo tudo, não
consegue mais. FIca parecendo que é do nada, que a pessoa está fazendo por
vontade”, explica.
Nardi
acredita que o transtorno pode trazer uma desmoralização, porque as pessoas
próximas podem não entender por que quem sofre com o distúrbio tem dificuldade
em sair só, por exemplo. Para ele, o preconceito também contribui para que as
pessoas demorem em buscar ajuda.
Ele
destaca, apesar de não haver cura para o transtorno do pânico, é possível que
os pacientes voltem a levar uma vida normal se receberem o acompanhamento
correto.
USP promove ação gratuita sobre o tema na
sexta-feira, 28
O
transtorno do pânico será um dos temas abordados durante a ação de saúde mental
gratuita promovida pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo
(USP) na próxima sexta-feira (28), das 8h às 17h. Mais de 250 psiquiatras
estarão disponíveis para conversar com a população, gratuitamente, sobre
diversos transtornos psiquiátricos. Inscrições pelo site oficial.