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Contador criava casamentos fictícios, “matava” as esposas e recebia seguros por viuvez



Marcelo amou Luciana. Amou Maria Aparecida. Amou Mariana. Casou-se com as três. Elas têm um grande semelhança: nunca existiram. Foram inventadas por ele para fazer parte de um golpe contra a Previdência Social. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o contador paranaense, após os fictícios matrimônios, forjou a morte das mulheres e garantiu, assim, rica pensão. Segundo os investigadores da força-tarefa, esse serial killer previdenciário conseguiu receber R$ 500 mil dos cofres públicos.

Na vida real, Marcelo Roberto Ferrarin é casado. Para não ser preso ou processado por fraude, ou até mesmo por bigamia, criava outras identidades para forjar o casamento com cada uma de suas mulheres. Montava ainda uma estrutura para cada uma de suas uniões.

Documentos e nomes forjados: RG, Habilitação e Cartão

Nomes para seus pais e sogros também eram criados por Ferrarin, como relata o MPF. Para a união com Luciana Bezerra dos Santos, ele mudou apenas o sobrenome. Batizou-se de Marcelo Antônio Pereira.

Já a personalidade de Ferrarin que se uniu em matrimônio com Maria Aparecida da Costa foi Luiz Roberto Parise. Ele tinha RG, carteira de habilitação e até cartão de banco. Segundo o MPF, no cartório da cidade de Nova Esperança conseguiu o registro falso para ele e para a noiva. Casaram-se em Iracema do Oeste.

Já “viúvo”, Parise requereu pensão por morte na agência da Previdência Social de São José dos Pinhais. Poucos meses antes, a pseudo morta tinha sido cadastrada como “segurada facultativa”. De agosto de 2009 até novembro daquele ano, Parise recolheu quatro contribuições mensais com valores bastante expressivos. A vida de Maria Aparecida teve fim apenas três dias após o Natal de 2009, traz sua falsa certidão de óbito.

Segundo levantamento realizado pelo INSS, Ferrarin recebeu só de pensão com a morte de Maria Aparecida um total de R$ 265.251,28. O valor mensal era de R$ 4.600.

A mesma estratégia foi utilizada para a prática de outros estelionatos. Num outro inquérito da Polícia Federal, os investigados são Márcio de Paula Santos e Mariana Pereira de Oliveira Santos. Márcio, segundo o MP, é outra personalidade de Ferrarin.

Preso por empréstimo

Ferrarin foi preso por tentar aplicar, na cidade de Toledo, o golpe do empréstimo consignado. Estava com documentos falsos em nome de Luiz Roberto Parise, com fotos de si próprio. Uma funcionária da empresa de crédito desconfiou dele, não efetivou os empréstimos e avisou a polícia. Acabava, assim, a carreira do falsário Don Juan paranaense.

Acesso a dados fiscais poderia poupar recursos

Um relatório da PF (Polícia Federal) traz uma série de recomendações para inibir a sangria de recursos do sistema previdenciário obtidos de forma ilegal. No entanto, essas sugestões ainda não foram incorporadas, o que adia mudanças que poderiam poupar recursos públicos.

A PF não tem, por exemplo, a base de dados dos benefícios dentro do próprio sistema. Os policiais só têm acesso às informações quando requisitam. Isso dificulta bastante o trabalho. Assim, uma pesquisa que poderia ser feita em 20 segundos dura dez dias.

“As coisas estão avançando, mas tudo muito lentamente. Só com tecnologia será possível estancar essa sangria toda. A Previdência ainda é muito lenta para fazer as mudanças”, lamenta um investigador da força-tarefa que abrange vários órgãos do governo e tem por objetivo identificar e punir fraudadores contra o sistema previdenciário.

Os controles têm melhorado nos últimos anos com a reformulação da área de inteligência da Previdência. Representantes da força-tarefa, porém, queixam-se de falta de celeridade para implementar mudanças. A falta de cooperação também impede ou dificulta as operações.

Sem acesso, por exemplo, aos dados fiscais dos pensionistas, fica difícil evitar que pessoas ricas recebam benefícios destinados a quem tem baixa renda. A Receita Federal compartilha apenas dados cadastrais, dificultando o trabalho tanto da PF quanto do TCU (Tribunal de Contas da União) — que faz uma auditoria constante para identificar fraudes na Previdência e evitar mau uso do dinheiro público. Depois, repassam os dados para o governo coibir a irregularidade.

Entre essas exigências do TCU e as recomendações da PF estão medidas simples e outras sofisticadas. A esperança de grande mudança e controle de gastos está no cadastro único que é preparado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o registro biométrico e deve fazer o número de fraudes desabar.

Em segundo lugar — e algo que pode ser feito mais rapidamente — é um acordo com o Fisco para que a Previdência tenha acesso aos dados fiscais. Os investigadores querem ainda um sistema eletrônico que permita ver se a pessoa requereu o benefício várias vezes em agências diferentes até que fosse aprovado. (AG) - Foto: Ilustração

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